1a. carta

Esta é a primeira carta que escrevi. Para ajudar na produção, minha dona convidou meus amigos Camila e Pedro, que tinham onze e dez anos.  Eis o que nós quatro fizemos juntos, durante uma deliciosa tarde:
"Para o querido João Pedro" (A carta foi pro João Pedro só, porque o João Filipe tinha apenas dez meses. Eles moram em Rio Branco, no Acre, e sempre escrevo pra eles. São meus melhores amigos!)
"Querido João Pedro, você não sabe o que aconteceu hoje: miei de fome e minha dona não ouviu. Se eu fosse você, tinha pego um biscoito; mas como sou gata, miei mais e mais."

"Eu me lembro bem de quando nos conhecemos. Você me fez uma visita e logo ficou meu amigo. Aposto como agora você está maior. Já eu continuo pequena: ainda não sei pegar comida para mim..."


"João Pedro, imagine você: não cresço desde apenas um ano de idade... Acredita que já estou com quase oito?  Sou muito baixinha e nunca mais vou crescer..."

"Por isso não pude pegar nem biscoito. Enquanto minha dona dormia pesado, minha barriga roncava, roncava. Exausta, parei de miar".
"Fiz cara de pobre-coitada para ver se alguém me ajudava. Meu pintinho de corda continuou parado. Minha bola grande não se mexeu. Meu ratinho sem rabo nem me viu. Pensei que eu nunca mais fosse comer..."

Mas tudo mudou, quando eu tive a ideia.

"Minha dona pensava que ia dormir o dia todo?! Que graça... Tirei o lençol dela! Ela não se mexeu... Pulei em cima dela! Ela gemeu... Pulei mais e mais! Ela sorriu: ´Minha gatinha está com fome?´, disse."

"Afinal, me deu a ração. Comi tudo, claro. Humm..."


"Essa não! Olha que absurdo, João Pedro: ela dormiu outra vez! O pior é que escrever carta me dá fome... Eu preciso comer mais!"

Um cheiro da Clarice.
Rio de Janeiro, 20 de novembro de 2005.

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